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O lado obscuro da eletrificação

O lado obscuro da eletrificação

tesla-model-3-plataforma Carros elétricos: O lado obscuro da eletrificação

O mundo automotivo está passando por uma grande transformação, a maior sua história de pouco mais de um século. O fim do motores a combustão é um vislumbre para os próximos anos, onde não existirá mais lugar para o cheiro da gasolina e muito menos a fumaça do óleo diesel. Além disso, há uma nova forma de se encarar o automóvel, não mais como uma propriedade particular, mas como um coletivo. E nesse admirável novo mundo sobre quatro rodas, o homem deixará de ter o controle sobre a máquina.

O pilar de toda essa transformação é o carro elétrico. Com emissão zero de poluentes, esse tipo de veículo agora é considerado a salvação para o meio ambiente, assim como para as cidades e seus habitantes. Mas, será que de fato ele é viável em todos estes termos? Governos e fabricantes de automóveis correm para entregar o mais rápido possível essa solução para o maior problema do século 20, a poluição.

Na Europa, por exemplo, as metas de redução de emissão de gases já não são mais o objetivo final para resolução do problema, mas o fim do comércio de motores de combustão interna. Vários países já se pronunciaram a favor dessa eliminação logo na próxima década e até 2040, praticamente todo o lado ocidental do continente deverá encerrar em definitivo esse mercado sustentado pelo petróleo. E não é só lá, Índia, China e até mesmo a Califórnia, em sentido contrário ao de Washington, querem por um fim às vendas.

Em muitos casos, infelizmente, a origem da eletricidade que abastece muitos carros atualmente ainda é suja, muito suja. Termelétricas movidas a carvão ou combustíveis fósseis não aliviam o meio ambiente, apesar do corte provocado pela emissão zero do automóvel. Na China, há pouco tempo, a matriz energética era dominada pelo carvão, alcançando 85% da produção nacional, que hoje caiu para 60%, mas ainda é elevada.

O país é tido como o celeiro para os veículos com baterias de lítio. A expectativa no futuro é inundar o país com carros plugáveis. Mas, sem energia limpa em sua origem, o impacto será apenas reduzido nos grandes centros, pois as termelétricas continuarão poluindo o país e o globo com altas cargas de carbono. Outra questão é o processo industrial. Fábricas não sustentáveis também poluirão na fabricação do carro elétrico. Na Alemanha, mais da metade da produção de energia vem de termelétricas a carvão e gás natural.

Este, por sua vez, utiliza uma complexa bateria com produtos químicos e materiais que podem poluir o meio ambiente, se não forem recicladas. Por ora, não há uma política global sobre o assunto, mas alguns países e blocos já adotaram algumas regras para seu descarte seguro. Mesmo que posteriormente usadas em estações fixas, esses dispositivos terão um dia que se reciclados. O próprio movimento dos carros com baterias também produz emissão de partículas, semelhantes aos de um carro comum.

Uma conta já existe para essa compensação. Para zerar a emissão gerada na produção de energia elétrica, um carro terá de rodar 100.000 km para compensar a poluição gerada para sua recarga. Se a energia for provida por parques eólicos, solares, maremotriz e hidrelétricos, a quantidade de km rodado cai para 30.000. No caso específico da complexa bateria, sua produção gera 125 kg de dióxido de carbono para cada kWh de densidade, segundo a BMW. Ou seja, cerca de três toneladas de CO2 para apenas uma bateria de lítio de 22 kWh do elétrico i3.

congo Carros elétricos: O lado obscuro da eletrificação

Custo humano

No entanto, um impacto ambiental (e social) maior ocorre na origem dos componentes principais de uma bateria de lítio. Como o próprio termo diz, o lítio, não é extraído de forma industrial por empresas que pagam bem aos funcionários. A Bolívia, maior reserva mundial, a região mais pobre do país é de onde sai a matéria-prima das baterias. Mas há outros metais importantes. Cobre, cobalto e o raro neodímio, são extraídos em países como a China e o Congo. Neste último está a maior reserva mundial de cobalto.

Desmatamento e poluição do solo e dos rios são verificados no processo de extração desse e de outros materiais, resultado em destruição ambiental. Além disso, há também violação dos direitos humanos, onde pessoas trabalham em condições análogas à escravidão e em muitos casos crianças são utilizadas nessa mão de obra extremamente barata. Homens, mulheres e crianças – muitas começam entre 7 e 8 anos – trabalham na extração e processamento do cobalto para exportação no Congo.

Apenas duas regiões do país concentram metade da produção mundial. Elas extraem também cobre e estanho. No caso do cobalto, este é exportado para a China, onde é processado e limpo, sendo então enviado para os fabricantes de baterias, sendo os mais renomados localizados na Coreia do Sul. Ou seja, o impacto ambiental e social apenas na produção de baterias de lítio é enorme. E o pior ainda está por vir nesse caso, pois a demanda avassaladora tomará proporções nunca vistas nas próximas décadas.

Já se fala no petróleo branco do “triangulo do ouro” do lítio – Argentina, Chile e Bolívia – cuja região já está sendo considerada o novo Oriente Médio, em alusão às maiores reservas do metal, que é o principal usado em baterias de carros elétricos, sendo a maior reserva no Salar de Uyuni, na Bolívia, a “Arábia Saudita do lítio”. O Congo, infelizmente nessas condições, terá sua produção de cobalto triplicada até 2025, passando das atuais 100 mil toneladas por ano para 300 mil.

Cada tonelada custa atualmente US$ 60 mil. Nas mineradoras internacionais, o processo de extração é mecanizado, mas 10% do suprimento mundial de cobalto é feito de forma artesanal, por homens, mulheres e crianças que recebem em média US$ 1 a US$ 3 por dia de trabalho intenso, de 10 h a 12 h sob condições miseráveis, na maioria dos casos.

Organizações defendem um boicote ao país, mas outras são contra, pois não há outra renda para milhares de pessoas que dependem desse trabalho. Os fabricantes de aparelhos eletrônicos dizem que a cadeia de suprimentos é complexa e não sabem exatamente qual é a origem da matéria-prima que utilizam. Em resumo, o carro elétrico está longe de ser a resolução completa em termos ambientais e cria também uma crise social e econômica na origem dos insumos.

[Fonte: Deutsche Welle/BBC]

Agradecimentos ao Luiz.